Empreendedorismo, viés racial, rap, feminismo – tudo no Festival Política

Desde 2017 em movimento, o Festival Política volta a ocupar o Cinema São Jorge em Lisboa, com cinema, performances, música, humor, exposições, debates e actividades para crianças, propostas “centradas na defesa do sistema democrático e na promoção da cidadania, intervenção cívica e direitos humanos”. O programa, de acesso gratuito, arranca na próxima sexta-feira, 21, e estende-se até domingo, 23, tendo a Pós-democracia como tema central. O Afrolink assinala alguns dos momentos do evento, a começar pelas conversas. Logo na abertura, teremos a reflexão “Será o empreendedorismo uma nova forma de activismo e participação cívica?”, com a presença de Nuno Varela, da Hip Hop Sou Eu e da Kriativu, do investigador António Brito Guterres e de Maria João Rodrigues, da VES – Associação Viver em Sociedade. No sábado, a discussão incide sobre o viés racial do sistema judicial e prisional, e junta as perspectivas da socióloga Cristina Roldão, do advogado José Semedo Fernandes, e de Mushu, dirigente da associação Passa Sabi. Finalmente, no último dia, a música e artivista Selma Uamusse modera uma conversa com a actriz e encenadora Cláudia Semedo e a autora e palestrante Mafalda Ribeiro sob o mote “Mulheres à beira de um Lugar de Fala e Construção”. Vamos!

por Afrolink

O Festival Política está de regresso ao Cinema São Jorge em Lisboa, para três dias de actividades com a Pós-democracia como tema central.

“Um ano antes de celebrar os 50 anos da Revolução de Abril, este é o momento de debater os perigos que a democracia enfrenta, e o Festival Política vai ser palco e voz do resgate da ideia de que os valores democráticos são inegociáveis, tendo na mira os casos crescentes de abraço ao autoritarismo e que levam os cidadãos a votar na sua própria negação”, lê-se na sinopse.

O programa – focado na defesa do sistema democrático, promoção da cidadania, intervenção cívica e direitos humanos – arranca na próxima sexta-feira, 21, e estende-se até domingo, 23, incluindo filmes, performances, concertos, momentos de humor, exposições, debates, e propostas para crianças.

O Afrolink partilha algumas das actividades do Festival Política, que, além de serem de acesso livre, são acompanhadas por tradução em Língua Gestual Portuguesa.

21 de Abril

Sala 2, 17h30 / Debate

“Será o empreendedorismo uma nova forma de activismo e participação cívica?”

Uma conversa com personalidades importantes do empreendedorismo social, envolvidas em projectos que, de facto, têm um impacto positivo nas sociedades onde actuam. A importância do empreendedorismo social como ferramenta para solucionar problemas sociais. Uma oportunidade para inspirar e motivar outros empreendedores sociais em potencial, além de conscientizar o público para o tema.

Participam: António Brito Guterres (investigador), Maria João Rodrigues (VES – Associação Viver em Sociedade) e Nuno Varela (Hip Hop Sou Eu, Kriativu). Moderação: Paula Cardoso (Afrolink).

Sala 3, 18h / Cinema

“Sessão Portugal ao espelho”

Com cinco curtas, incluindo:

“Nha Fidju”, Diogo Moreira Carvalho, 5’
Um filho sem a mãe, uma mãe sem o filho. Um problema de gerações de afrodescendentes, o seu direito a uma família e a uma casa.

“Que mundo, português?”, António Limpo, 10’
A Exposição do Mundo Português, nesse Portugal grandioso e verdadeiramente pequeno, na hipnose do fascismo e analfabetismo vigente. Do Portugal perfeito ao Portugal imperfeito. Algures entre a Ilusão e a Alheação, que mundo este, português?

Foyer, 18h30 

Inauguração da exposição “Institucionalizado”, de Isa Marques e Airton Cesar Monteiro (continua durante todo o festival)

As instituições totais são lugares onde um número considerável de indivíduos na mesma condição leva uma vida conjunta, isolado da sociedade. No caso das prisões, esse isolamento tem a função de proteger a comunidade exterior desses indivíduos. A esse processo de aplicação opressiva de controlo social e às suas consequências chama-se institucionalização. O Paulinho e o Mequinhas, protagonistas desta exposição, foram institucionalizados durante 25 e 37 anos, respetivamente. De forma descontinuada, passaram décadas das suas vidas em diversas instituições prisionais desde a menoridade. Esse processo ter-se repetido múltiplas vezes diz-nos sobre a sua ineficiência. Ou melhor, sobre a sua limitação – assegura apenas a captura de corpos e temporariamente. A institucionalização esvazia, enumera e redistribui os indivíduos para a sociedade sem mudar as condições que os levaram à cárcere em primeiro lugar ou que os mantém como potenciais reincidentes. Quanto aos modelos desta exposição, é a precariedade aliada à sua condição de saúde: toxicodependência. Apesar da brutalização da passagem pela instituição total que é a prisão, lutam para se humanizarem.

Sala 2, 19h
Apresentação: A arte urbana: história, estética e politização, por Isabel Nogueira

A arte urbana começou como forma de denúncia das más condições de vida e do racismo, sobretudo sentido pelos jovens afro-americanos e latino-americanos. Foi no South Bronx e na ligação à cultura do hip hop e do grafitti que estas manifestações acabaram por ganhar uma forma estética sofisticada e um impacto social e político assinaláveis. Esta apresentação faz uma sucinta viagem desde a origem, no final do anos 70, passando por alguns dos mais implicativos artistas ligados à arte urbana na actualidade.

22 de Abril

Sala 2, 17h / Conversa-Debate

“Do sistema judicial ao prisional: Viés racial”

Com o lançamento da primeira edição em Portugal da obra “As Prisões Estão Obsoletas?” e a recente visita da autora, activista e abolicionista Angela Davis, cria-se um espaço para falar sobre o sistema prisional e questionar o seu papel na sociedade. Nesta conversa, propomos começar lá atrás – no poder judiciário que condena desproporcionalmente uns com viés racial e subsidia privilégios de outros. A partir da prática, da experiência e do olhar abolicionista propomo-nos a percorrer nesta conversa o poder prisional.

Participam: Cristina Roldão (investigadora e activista), José Semedo Fernandesdes (advogado) e Mushu (dirigente associativo da Passa Sabi). Moderação: Airton César Monteiro (convicto agitador social).

Sala 2, 18h30/Concerto

“G Fema com convidados”

G Fema, alter ego conquistado por Ana Maria Semedo, que em crioulo cabo-verdiano significa Mulher Guerreira, anunciando de partida a que veio. Doce e feroz MC da Zona M, Chelas, G Fema tem sido uma voz criativa no rap street made in Portugal, rimando em Crioulo Badiu. O seu rap é uma força de expressão emancipatória, que lhe tem conquistado uma posição de respeito. As suas letras e presença na voz, o facto de ser uma das poucas mulheres a inscrever-se na cena, a intuição e garra, dão-lhe um carisma e uma atitude a que poucos ficam indiferentes, sendo uma referência feminina no rap crioulo em Portugal, abordando, entre outros, os temas do empoderamento feminino: o que é ser uma mulher, mãe, negra, portuguesa, diretamente da zona M, Chelas City, para o mundo. O rap e o rap crioulo são um percurso e caminho de resistência e existência. Ainda mais no feminino. E G Fema tem trilhado esse caminho aguerridamente.

23 de Abril

Sala 2, 17h30 / Conversa 

“Mulheres à beira de um Lugar de Fala e Construção”

Selma Uamusse convida outras mulheres que nos seus diferentes ofícios ocupam um importante lugar na construção da nossa sociedade. O ponto de partida são as etiquetas e rótulos que quase todas carregam e o de chegada o seu contributo para a construção de uma sociedade mais generosa a artir dos seus distintos lugares de fala. Serão só elas ou deveríamos estar todos à beira de um lugar de fala/ escuta,
construção/desconstrução?

Participam: Mafalda Ribeiro (autora, palestrante e consultora de inclusão para a deficiência) e Cláudia Semedo (actriz, apresentadora de televisão e locutora), com moderação de Selma Uamusse
(música e artivista).

 

Consulte a programação completa no site do festival.

Siga a iniciativa nas redes sociais

Facebook

Instagram