“Fazer mais pelos outros” – o sonho de Sandra Borges que nos convoca a todos
por Paula Cardoso
Aguentou sozinha até ao limite dos cêntimos. Pagou inscrição, matrícula, seguro, propinas, e, pelo caminho, viu desaparecer todo o subsídio de férias. Sem mais cordões para puxar à bolsa – que não vai além do salário mínimo –, Sandra Borges, de 33 anos, decidiu enfrentar o desafio financeiro acompanhada por todos nós.
“A hora é agora”, sublinha ao Afrolink, reforçando o apelo que começou a circular esta semana nas redes sociais, por iniciativa de amigas. Nele lê-se: “A Sandrinha está a realizar o seu sonho de estudar na Universidade! Enquanto a bolsa não chega, as propinas precisam de ser pagas, e qualquer ajuda é bem-vinda”.
O repto chegou à nossa morada na passada terça-feira, 7, e, ontem à noite, já depois da conversa com o Afrolink, veio também a boa notícia: “Acabei de conseguir pagar a propina de Janeiro”.
Juntamente com a mensagem, Sandra envia-nos o comprovativo de pagamento à universidade, no valor de 352,20€, montante que se habituou a contabilizar ao cêntimo desde Julho último, mês em que garantiu a entrada na Lusófoma.
Aluna do 1.º ano de Serviço Social, curso que sonha fazer desde que terminou o 12.º ano, em 2006, a caloira continua à espera dos resultados das candidaturas a duas bolsas para garantir a continuidade dos estudos.
Marco familiar
“Já falava disso no Secundário: que o meu desejo era ir para a universidade, muito projectada pelos sonhos dos meus pais, que não tiveram essa oportunidade”, conta Sandra, que há mais de uma década frequentou um ano de Antropologia, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, tornando-se a primeira da família no Ensino Superior.
“Tinha feito o 12.º ano em Animação Social, com um estágio muito ligado a crianças e jovens, e queria continuar nessa área”, conta, explicando porque é que se desviou de um destino como antropóloga.
“O que queria era mesmo Serviço Social, mas não tive média. Por outro lado, as coisas em casa também não iam tão bem. Então optei por parar os estudos, começar a trabalhar, e depois voltar aos exames”.
Os planos incluíam uma tentativa de melhoria de nota, mas esbarraram no que Sandra descreve como “atropelos da vida”.
Primeiro a carta de condução, a seguir a compra do carro, e depois a dupla maternidade…com a passagem dos anos as prioridades foram mudando.
Cêntimo a cêntimo alimenta-se o sonho
Manteve-se a constante do trabalho comunitário, desde 2010 aprofundado na Associação Moinho em Movimento, que serve a população do bairro Moinho das Rolas, em Oeiras, e à qual preside há cinco anos.
A dedicação coloca-a na corrida a uma bolsa de mérito desse município, processo ainda em apreciação, mas que poderá ser a chave para suportar os encargos da licenciatura em Serviço Social.
Igualmente sob avaliação está a candidatura a uma bolsa da Direcção-Geral do Ensino Superior, também ainda sem resultados.
Seja como for, Sandra não tem dúvidas de que “A hora é agora”. Para amanhã fica a vontade e o empenho de aprofundar o trabalho na área social, e “fazer mais pelos outros”. Até lá, cabe-nos a nós fazer mais. Com um cêntimo de doação que seja.
Contribua para o sonho de Sandra Borges
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