“Não é esta Angola que sonhamos” – o grito de Luanda que ecoa em Lisboa

Centro e três pessoas foram detidas em Luanda no último sábado, 24, acusadas dos crimes de arruaça, ofensas corporais e danos públicos, na sequência de uma manifestação contra o desemprego, violentamente reprimida pela polícia. Seis jornalistas que faziam a cobertura do protesto também foram apanhados pela fúria policial, apesar de munidos das respectivas identificações profissionais. É caso para escrever, nova liderança, velhos hábitos? A pergunta encontra-nos mais logo n’ “O Lado Negro da Força”, o talk-show online das noites de quinta-feira. Para ver a partir das 21h30, em directo no Facebook e no YouTube, hoje com a psicóloga Gisela Van-Dunnan como convidada.

por Paula Cardoso

“Justiceiro”, “Exterminador Implacável”, “Caçador de Marimbondos”, “Grande Reformista”, …todos os nomes iam dar ao Presidente da República de Angola, João Lourenço.

No poder desde Setembro de 2017, em substituição de José Eduardo dos Santos – que governou o país por 37 anos –, o “mimoso”, conforme ficou conhecido na campanha eleitoral, popularizou-se, nos primeiros meses de mandato, pela política de tolerância zero à corrupção e de maior proximidade à população.

O afastamento de Isabel dos Santos da Sonangol, e a detenção de José Filomeno dos Santos, o antigo homem forte do Fundo Soberano de Angola, foram dois dos momentos-chave para alimentar esperanças numa nova era.

A abertura de João Lourenço à realização de conferências de imprensa, a dispensa de um forte aparato a cada deslocação, e as mexidas no núcleo duro do MPLA (partido que governa Angola desde a Independência) sustentaram os sinais de mudança.

Mas, cumprido mais de metade do mandato presidencial os novos tempos escancaram velhos hábitos.

Nem só as condições de vida da população não melhoraram, como as bandeiras da liberdade de imprensa, da criação de empregos, da luta contra a corrupção e de uma maior abertura democrática no país, hasteadas em vários discursos presidenciais, vêm caindo estrondosamente.

A queda de um sonho

A manifestação do último sábado, 24, contra o desemprego, expressa bem a derrocada do sonho de uma nova Angola.

Numa clara e musculada violação dos mais elementares Direitos Humanos, a Polícia carregou sobre centenas de pessoas, reprimindo violentamente o protesto.

Centro e três pessoas acabaram detidas, e nem os jornalistas que faziam a cobertura do acontecimento escaparam.

Embora munidos das respectivas identificações profissionais, os seis repórteres acabaram privados de liberdade durante cerca de 50 horas.

O crime? Estavam a trabalhar, direito reivindicado pelos manifestantes e violentamente silenciado.

“Não é esta Angola que sonhamos”, mostra-nos uma das imagens do protesto. Por mandos e desmandos de autoritarismo transformada em pesadelo. Continua o poder a dormir, enquanto o povo desperta?

 

Acompanhe esta e outras reflexões a partir das 21h30, n’ O Lado Negro da Força, no Facebook e no YouTube

Fotografia de Borralho Ndomba @DW