O clique empresarial para valorizar as riquezas da Lusofonia

Desde Fevereiro online, a Plataforma de Serviços de Língua Portuguesa, ou simplesmente PLP Serviços, chegou para “ligar empresas e compradores interessados em adquirir os melhores produtos e serviços dos Países de Língua Portuguesa”. Tudo “com rapidez e segurança”, promete Gualter Vera Cruz, o homem à frente do projecto, implementado à boleia da Covid-19.

por Paula Cardoso

Enquanto a Organização Mundial da Saúde subestimava o impacto do coronavírus, e 2020 ainda fervilhava de planos de viagens, negócios, encontros, espectáculos e toda a sorte de realizações, a vida de Gualter Vera Cruz já se reinventava ao ritmo da Covid-19.

Director comercial numa firma de Macau, o luso-são-tomense deveria ter regressado ao trabalho no início do ano, mas acabou travado pelo encerramento de fronteiras a Oriente.

Sem data de embarque, Gualter decidiu que estava na hora de fazer descolar outros “planos de voo”: os do seu próprio negócio.

A viagem empresarial está online desde Fevereiro, através da recém-criada PLP Serviços, apresentada como “uma Plataforma de Serviços de Língua Portuguesa que tem como principal função ligar empresas e compradores, interessados em adquirir os melhores produtos e serviços dos Países de Língua Portuguesa com rapidez e segurança”.

O projecto, que começou a ser esboçado nos primeiros meses de 2019, dá resposta a uma necessidade identificada por Gualter, a partir do contacto com o mundo dos negócios.

Mas, já lá vamos. Por agora, recuemos um pouco na história.

Primeiro delegado de São Tomé em Macau

Licenciado em Sociologia, e com mestrado em Ciência Política, Gualter, que agora complementa a formação académica com um curso de formação profissional em Gestão e Empreendedorismo, trabalhou durante mais de uma década em Portugal, no sector do Retalho, sempre na mesma empresa.

“Fiz de tudo. Comecei como empregado de armazém, estive no controlo de stock, dei formação em contexto de trabalho, mas, ao fim de 14 anos, cheguei a um limite em que disse: ‘Preciso de mais’”.

Seguiu-se um pedido de demissão, e, com ele, veio a oportunidade de regressar a São Tomé e Príncipe, onde deu aulas no Ensino Superior e assessorou o Ministro das Finanças, Comércio e Economia Azul, experiências que lhe abriram as fronteiras para Macau.

Nomeado delegado de São Tomé e Príncipe no Fórum para a Cooperação Económica e Comercial entre a China e os Países de Língua Portuguesa (Fórum Macau), Gualter tornou-se, em 2017, o primeiro representante são-tomense na organização.

Nesse cargo, que exerceu até Março de 2019, o ex-delegado especializou-se na promoção de oportunidades de negócio em São Tomé e Príncipe.

O clique empresarial

Agora ao serviço de uma firma privada macaense, onde desempenha funções de director comercial, mantém a missão de criar novas ligações empresariais, entretanto alargada à actividade da sua PLP.

“Comecei a perceber que há dificuldade de se fazer a conexão dos empresários a diferentes pontos de compra”, explica o são-tomense, disposto a transformar a PLP nessa ponte.

Ancorada na máxima “Nós temos a solução para tudo o que procura para o seu negócio”, a plataforma disponibiliza uma ampla gama de produtos, como alimentos, veículos, livros e material de escritório, e oferece serviço de consultoria. Útil, por exemplo, para apoiar a entrada de empresários noutros mercados, como o chinês.

Tudo isto à distância de alguns cliques, que pretendem libertar um pouco a agenda de viagens dos homens de negócios.

“Conversando com empresários dos países de língua portuguesa, apercebi-me que estão receptivos a uma alternativa de compra de matérias-primas, bens e serviços a preços competitivos, com garantia de qualidade e protecção dos seus direitos”, aponta Gualter, acrescentando que a PLP não está apenas focada em responder às necessidades do empresariado lusófono.

“Ao mesmo tempo, queremos valorizar o produto português”, antecipa o são-tomense, para logo de seguida explicar que alguns produtos poderão ser fabricados directamente em Portugal, onde a PLP vai estar sediada.

Mas, seja qual for a origem dos bens, Gualter salienta a importância de obter certificação europeia, como forma de validar a qualidade da oferta de bens e serviços disponíveis na plataforma.

Na rota de objectivos PLP, o empreendedor destaca ainda a meta de ver reconhecidas as riquezas de toda a comunidade lusófona.

“O primeiro objectivo de muitos empresários é vender, o que faz com que não olhem para as potencialidades dos seus produtos”, nota Gualter, dando como exemplo o caso de Timor-Leste, que “vende café e cacau, mas não está a aproveitar para divulgar que o produto é timorense”.

Resultado: os grãos perdem a identidade original, desperdiçando-se uma boa oportunidade de semear novos negócios e plantar relações menos desiguais.

“Ainda não nos colocamos numa posição de igualdade”, constata o criador da PLP, confiante no contributo da plataforma para equilibrar transacções. Por mais e melhores negócios.