O dinheiro pode não esticar, mas vale mais assim: a cuidarmos uns dos outros

A trabalhar como fotógrafo há uma década, o nosso companheiro de tantas lutas, Carlos Alvarenga, cujo perfil o Afrolink apresentou há dois anos e hoje republica, precisa do nosso apoio enquanto recupera de tratamentos a um tumor no cérebro. Parcialmente surdo, e em lista de espera por uma cirurgia, o Alvarenga junta aos desafios de saúde a dificuldade de encontrar trabalho, circunstâncias que o colocam numa frágil situação financeira. Basta uma doação de 5 euros para ajudarmos a fazer a diferença.

por Afrolink

A campanha está online desde o final de Dezembro, na página GoFundMe, e, mais do apelar a um espírito solidário que “fica sempre bem” na época natalícia, ela apela ao nosso sentido de comunidade, à nossa capacidade de cuidarmos uns dos outros.

Desta vez, é o fotógrafo Carlos Alvarenga quem precisa do nosso apoio.

“Devido a um tumor no cérebro, o nosso amigo teve de fazer tratamentos de radioterapia que como consequência o deixaram parcialmente surdo”, explica Joana Menezes, que iniciou a recolha de fundos.

A recuperar desse quadro clínico, e em lista de espera por uma cirurgia, o Alvarenga não tem conseguido encontrar trabalho, o que o coloca numa situação financeira especialmente frágil.

Com doações a partir de 5 euros podemos ajudar a fazer a diferença. Para que o Alvarenga possa continuar a escrever a sua história, que publicámos em 2021, aquando da sua passagem pelo O Lado Negro da Força, e que republicamos nos parágrafos que se seguem.

Os beats que deram clique fotográfico e mudaram o rumo de Carlos Alvarenga

A necessidade de produzir vídeos para as próprias músicas aguçou o engenho criativo de Carlos Alvarenga. Sem orçamento para contratar quem pudesse dar vida audiovisual aos seus beats, o MC deitou mãos à obra.

“Andava a ver preços de pessoal que trabalhava na área do vídeo. Na altura, achava que eram absurdos, mas na verdade eu é que não tinha dinheiro suficiente”, conta o hoje fotógrafo, ofício desbravado de forma autodidacta. 

“Decidi comprar a minha máquina com o único intuito de fazer vídeos. Aconteceu que, na curiosidade, comecei a tentar tirar fotografias, e dei por mim a querer aprender mais sobre o assunto”. 

O interesse desenvolveu-se entre pesquisas online, nomeadamente de vídeos sobre fotografia, mas a grande escola foi mesmo a prática. 

“Aprendi muito do que sei de fotografia pegando na máquina e indo para a rua fotografar”.

Primeiro no registo de pequenos eventos de bairro, depois a documentar cerimónias privadas, Carlos começou a ser reconhecido como fotógrafo.

“Chegou a uma altura em que alguém me perguntou se eu costumava fotografar baptizados. Respondi que sim, quando na verdade nunca o tinha feito”.

Arte de intervenção

Da inexperiência para a proficiência, o caminho na fotografia consolida-se na K Von D Studios, a produtora que entretanto criou, sem nunca perder de vista a inspiração de partida: o rap.

Filho de guineenses, nascido em Lisboa há 35 anos, Carlos sempre viveu no concelho de Oeiras, primeiro em bairros de lata e depois em bairros sociais.

Nessa realidade, conta que despertou precocemente para os beats, “muito por influência de TWA, Nigga Poison, Celso OPP e Tupac”, entre outras referências.

“Desde cedo o meu rap é interventivo, porque cresci no meio de injustiças. Desde cedo que tenho escrito sobre discriminação e política, mesmo numa altura em que não percebia muito sobre o assunto”.

Agora a intervenção faz-se também através da  K Von D Studios, que, além de sessões fotográficas e de cobertura de eventos, oferece serviços de gravação e masterização de áudio e de realização/edição de videoclips.

“Aprendendo sempre e desafiando-me cada vez mais”.