“O Riso dos Necrófagos”, do Teatro Griot, recebe prémio internacional

Inspirada nas memórias de 3 de Fevereiro de 1953, data em que o regime colonial português reprimiu com violência assassina o protesto de “forros” são-tomenses contra o trabalho forçado nas roças, a peça “O Riso dos Necrófagos”, com direcção e encenação de Zia Soares foi distinguida como “Melhor Espectáculo 2021/2022” no âmbito da XIII Edição do Premio Internazionale Teresa Pomodoro, promovido pelo Spazio Teatro No´hma de Milão, Itália. Segundo o júri, a co-produção do Teatro Griot/ Culturgest destaca-se por conservar a “memória dos mortos estimulando a consciência dos vivos e erguendo-se com a força do corpo e da voz contra qualquer forma de imperialismo e de racismo”.

Texto por Afrolink

Fotografia de Teatro No’ hma

Os acontecimentos de 3 de Fevereiro de 1953, inscritos na História de São-Tomé como “Guerra da Trindade”, estão na génese d’ “O Riso dos Necrófagos”, recém-galardoado como “Melhor Espectáculo 2021/2022”, no âmbito da XIII Edição do Premio Internazionale Teresa Pomodoro, promovido pelo Spazio Teatro No’hma de Milão.

A cerimónia de distinção aconteceu no passado dia 3, nessa cidade italiana, e contou com a presença de Zia Soares, que assina a direcção e encenação do espectáculo, bem como com parte da equipa artística do espectáculo, nomeadamente Benvindo Fonseca, Daniel Martinho, Mick Trovoada, Neusa Trovoada e Xullaji.

Segundo o júri internacional, a co-produção do Teatro Griot/ Culturgest, distingue-se “pela transposição da dimensão carnavalesca de um ritual de procissão para uma performance hipnótica e de energia irreprimível, que mantém em vida a memória dos mortos estimulando a consciência dos vivos e erguendo-se com a força do corpo e da voz contra qualquer forma de imperialismo e de racismo.”

A peça parte dos vestígios da “Guerra da Trindade”, evocados anualmente nas ruas são-tomenses num “itinerário ritualístico”, em que a população desfila “ao longo de várias horas numa marcha amplificadora de falas, cantos, risos e sons que saem de corpos convulsos”.

A tradição acaba não só por testemunhar a acção sangrenta do velho império luso, mas também por simbolizar a ruptura com o colonizador, marcando o início de um movimento de resistência pela libertação nacional.

Tudo isso está presente em “O Riso dos Necrógafos”, conforme destacou o júri internacional que premiou o espectáculo.

Recorde-se que a peça estreou-se em Lisboa, no Grande Auditório da Culturgest, em Abril de 2021, seguindo no mesmo ano para o Convento São Francisco, em Coimbra. Já em 2022, o espectáculo foi apresentado no Teatro No’ hma e na Bienal de São Tomé e Príncipe. 

Conheça o júri que premiou “O Riso dos Necrófagos”

Presidido por Livia Pomodoro, directora artística do Spazio Teatro No’hma, o júri internacional que atribuiu o prémio de “Melhor Espectáculo 2021/2022” a “O Riso dos Necrófagos”, integrou: Lev Abramovič Dodin (director artístico de Malyj Dramatičeskij Teatro de São Petersburgo), Stathis Livathinos (encenador grego), Enzo Moscato (fundador e director artístico da Compagnia Teatrale Enzo Moscato), Lluís Pasqual (encenador espanhol), Tadashi Suzuki (director da Suzuky Company of Toga – SCOT no Japão), Peter Stein (encenador alemão), Oskaras Koršunovas (fundador e director artístico do Oskaro Koršunovo Teatras de Vilnius – OKT), Muriel Mayette-Holtz (director do Théâtre National de Nice), Fadhel Jaïbi (director artístico do Théâtre National Tunisien) e Gábor Tompa (presidente dos Teatros da União Europeia e director do Teatro Húngaro de Cluj, Roménia).