O Riso dos Necrófagos que se solta em Coimbra, com a arte Griot

O Teatro Griot apresenta na próxima sexta-feira, 22, às 21h30, no Convento São Francisco, em Coimbra, o espectáculo “O Riso dos Necrófagos”, cuja estreia aconteceu em Abril, na Culturgest. Até lá, recordamos o destaque que o Afrolink fez da estreia, lembrando que a peça é inspirada nas memórias de 3 de Fevereiro de 1953, data em que o regime colonial português reprimiu com violência assassina o protesto de “forros” são-tomenses contra o trabalho forçado nas roças. A chamada “Guerra da Trindade”, evocada como feriado nacional em São Tomé e Príncipe, testemunha a acção sangrenta do velho império luso, mas também simboliza a ruptura com o colonizador, marcando o início de um movimento de resistência pela libertação nacional. Quase 70 anos depois dessa tragédia, a História sobe ao palco pela direcção de Zia Soares.

Texto por Afrolink

Fotografia de Sofia Berberan 

Resistência. Violência. Opressão. Libertação. Que sentido cada uma destas palavras tem na nossa História? Quais as memórias que lhe estão associadas?

Como encontrar respostas quando somos “programados” para não fazer perguntas?

Os questionamentos vão e vêm no confronto com uma narrativa histórica eurocêntrica que – já sabemos – se construiu a partir do apagamento de todos os rastos de resistência e ciência negra.

Ter consciência dessa fabulação criminosa é o ponto de partida para uma reconversão colectiva, destino que nos encontra entre apresentações da mais recente produção do Teatro Griot.

Entre a vida e a morte

“O Riso dos Necrófagos começa nos vestígios da Guerra da Trindade encontrados na ilha de São Tomé, pela encenadora Zia Soares e pelo músico Xullaji, nas bocas dos que a viveram e dos que a ouviram contar, relatos de memórias desfocadas pela passagem do tempo”.

Na mensagem promocional da peça, que se estreou na Culturgest e é apresentada na próxima sexta-feira, 22, em Coimbra, recorda-se a violência assassina do invasor português, que, ao amontoar “mortos em valas comuns ou no fundo do mar”, acredita condená-los a uma eternidade de esquecimento.

“Mas para os santomenses, são presenças na ilha como símbolo encarnado e, para celebrá-los, anualmente no dia 3 de Fevereiro, cumprem um itinerário ritualístico, desfilando ao longo de várias horas numa marcha amplificadora de falas, cantos, risos e sons que saem de corpos convulsos”.

A tradição, que Zia Soares pôde vivenciar no ano passado, surge em “O Riso dos Necrófagos” como  “um prolongamento desse percurso celebratório, entrópico, onde os actuantes manipulam tempos e imagens, desossam e riem do delírio, reconfigurando os vestígios e os fragmentos do morticínio, a partir da ideia de celebração – a festa, a liturgia e os aspectos ritualísticos do quotidiano”.

Nesta dança entre a vida e a morte – que podemos acompanhar também numa conversa com a artista e investigadora Raquel Lima –, abre-se um diálogo entre o Teatro e a História. Para ver, no Convento São Francisco, em Coimbra.

 

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