O Thoon de festa que traz novos acessos para pessoas queer e negras

Da cidade brasileira de São Paulo para a capital portuguesa, os caminhos de encontros de Guilherme Oliveira, ou simplesmente Gui, esbarraram num vazio. “Quando cheguei a Lisboa, e comecei a frequentar festas, percebi que estão sempre as mesmas – e poucas – pessoas pretas e queer no mesmo lugar, e estão ali porque foram convidadas”, conta, partilhando a vontade de promover novos acessos. A oportunidade surge agora com o projecto Thoon, que, na próxima sexta-feira, 28, inaugura um novo ciclo de animação nocturna, com a presença do DJ e produtor IAMNOBODI. O propósito, aponta o hairstylist, é “mudar um pouco a cena musical em Lisboa, trazer mais a galera preta real, numa festa com dance house, hip- hop, jazz, soul…”. Além dos ritmos, o Thoon pretende projectar-se pela produção de editoriais de moda, universo no qual Gui se profissionalizou, e que vê como plataforma de visibilização e valorização artística.

por Afrolink

Quando estão numa festa, o que vos salta à vista? “Trabalho no meio da moda, e o meu foco sempre foi as pessoas pretas e queer”, atira Guilherme Oliveira.

Mais do que tentar identificar onde estão as pessoas que partilham a mesma identidade, Gui, como prefere ser tratado, questiona as ausências.

“Quando cheguei a Lisboa, e comecei a frequentar festas, percebi que estão sempre as mesmas – e poucas – pessoas pretas e queer no mesmo lugar, e estão ali porque foram convidadas”, nota, defendendo que “quem mais precisa de estar não está”.

Empenhado em mudar essa realidade, através da promoção de novos acessos, o hairstylist juntou-se ao projecto Thoon, que, na próxima sexta-feira, 28, inaugura um novo ciclo de animação nocturna, com a presença do DJ e produtor IAMNOBODI.

A iniciativa, reservada ao público-alvo, foi idealizada pelo DJ e produtor brasileiro Rodney Schmith, e agrega outros dois elementos: Alex, luso-guineense e proprietário da cadeia de restaurantes Mr Alpha, e Juan Alvarez, fotógrafo e director de arte venezuelano.

O propósito, aponta Gui, é “mudar um pouco a cena musical em Lisboa, trazer mais a galera preta real, numa festa com dance house, hip-hop, jazz, soul…”.

Mais arte, por favor

Além dos ritmos, o Thoon pretende projectar-se pela produção de editoriais de moda, universo no qual Gui se profissionalizou, e que vê como plataforma de visibilização e valorização artística.

“Muitos artistas independentes e que não são notados podem ter aqui um espaço para dar a conhecer o seu trabalho”, antecipa, acrescentando que está em Portugal há quase ano e meio, mas só desde o início do ano começou a regressar ao mundo da moda.

Apesar da espera, e de ainda não estar a 100% no seu mercado de especialização, o hairstylist sabe que está a trilhar um caminho menos tortuoso do que o habitual.

“Vejo amigos pretos queer tendo de se submeter a situações precárias para se sustentar”, nota, adiantando que não vê isso acontecer com pessoas brancas com a mesma identidade de género.

A ausência de oportunidades e espaços para pessoas negras queer torna ainda mais necessário, explica Gui, projectos como o Thoon.

“Precisamos ser vistos, criar conexão. Acredito que esse será sempre o meu foco”.

Para já, a missão cumpre-se com a programação de festas e planeamento dos editoriais de moda, numa calendarização bimestral que marca o caminho para o futuro.  “O meu sonho primordial é construir uma escola com todo o tipo de arte, como escultura, fotografia e moda, que as pessoas pretas e queer possam fazer de forma gratuita”.

Com mais acesso. Por mais acessos.

Guilherme Oliveira é um dos promotores do projecto Thoon