Afrolink inaugura programa de estágios, com bolsa de Jornalismo

A caminho do 1.º aniversário, o Afrolink celebra o lançamento do seu primeiro programa de estágios, destinado à formação de jornalistas. A iniciativa nasce da doação dos direitos de autor do livro+DVD “Racismo no País dos Brancos Costumes”, resultante do trabalho jornalístico de Joana Gorjão Henriques e Frederico Batista para o Público.

O multipremiado livro+DVD “Racismo no País dos Brancos Costumes”, resultante do trabalho jornalístico de Joana Gorjão Henriques e Frederico Batista para o Público, desencadeou esta formação Afrolink.

Filipa Bossuet, de 23 anos, é a primeira estagiária do programa Afrolink de formação em Jornalismo.

por Afrolink

No nosso texto de apresentação, intitulado “Como o Afrolink vem salvar o nosso pescoço – o teste que importa fazer”, propusemos um exercício de observação.

“Olhem em volta. Observem o movimento no espaço público português. Quem ocupa posições de chefia nas grandes empresas? Quem está no atendimento em instituições públicas? Ao balcão de agências bancárias? Em destaque nos outdoors publicitários? Presente em colunas de opinião das revistas e jornais? Nos programas de TV?”.

Acrescentámos a esse desafio uma dupla interrogação: Há negros nos espaços por onde circulamos diariamente? Que lugares ocupam?

Para quem não vê cores, porque isso é racista, e defende que o racismo acabará quando deixarmos de falar em negros e brancos e começarmos apenas a nomear pessoas, o chamado “teste do pescoço” acima proposto pode ser especialmente perturbador. Já para quem consegue identificar diferenças étnico-raciais na nossa sociedade, mas nunca reflectiu sobre as desigualdades que lhe estão associadas, esse exercício pode ser particularmente revelador.

Seja como for, salta à vista que, em Portugal, os cargos de poder, prestígio e influência permanecem esvaziados da diversidade étnico-racial que compõe o país.

Confrontar e reformar os “Brancos Costumes”

O sector dos media não é excepção. Reconhecer que os mecanismos de selecção são profundamente excludentes, e que é necessário corrigi-los está na génese do lançamento do primeiro programa de estágios Afrolink, destinado à formação de jornalistas afrodescendentes.

A iniciativa nasce a partir do livro+DVD “Racismo no País dos Brancos Costumes”, resultante do trabalho jornalístico de Joana Gorjão Henriques e Frederico Batista para o Público, distinguido com o Prémio Gazeta de Imprensa 2017 (Clube de Jornalistas), o Prémio Jornalismo Direitos Humanos e Integração (Unesco) e a Medalha de Ouro comemorativa do 50.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos (Assembleia da República).

“Desde que lancei o livro que o objectivo era fazer uma doação com as receitas das vendas que só agora chegaram. Dar um contributo para a formação de um profissional numa área como os media, onde há ausência de representatividade, foi a opção que fez mais sentido. É uma honra o Afrolink ter aceitado este desafio”, adianta a jornalista Joana Gorjão Henriques.

O montante doado, no valor de 2.200 euros, reverte integralmente para a nossa primeira bolsa de jornalismo, atribuída a Filipa Bossuet, de 23 anos.

Licenciada em Ciências da Comunicação, a primeira estagiária Afrolink vai ter, ao longo dos próximos quatro meses, a oportunidade de aprender jornalismo na prática, com formação e mentoria de Paula Cardoso, fundadora desta plataforma online.

Esta preparação pretende servir de impulso às aspirações profissionais da Filipa, e, ao mesmo tempo, de catalisador para a criação de um projecto de formação, que contribua para promover uma maior representatividade negra na imprensa portuguesa.

Reforçar as bolsas e criar postos de trabalho

Com este objectivo, o Afrolink vai iniciar em breve uma campanha de angariação de fundos para a atribuição de mais bolsas de jornalismo, que permitam acolher outros estagiários com pouca ou nenhuma experiência na área e, numa fase posterior, também criar postos de trabalho.

O processo será explicado e divulgado nesta morada.

Até lá, esperamos que mais e mais pessoas se disponibilizem para fazer o “teste do pescoço” e que, nesse processo, além de notarmos as ausências, sejamos capazes de reconhecer que os sistemas de poder do presente reproduzem séculos de privilégio branco, assente em velhas classificações raciais de inferiorização e desumanização das pessoas negras.

Mais do que confrontar o problema, assumimos o compromisso de fazer parte da solução. Diariamente e colectivamente.