Com Beatriz G. Dias, por uma Lisboa “menos desigual, com mais memória”

A candidatura da deputada do Bloco de Esquerda, Beatriz Gomes Dias, à liderança da Câmara Municipal de Lisboa, anunciada no início da semana, é, para o Afrolink, um enorme motivo de celebração, e ao mesmo tempo de profunda apreensão, activada por graves sintomas de uma pandemia que dura há cinco séculos: a crença de que os negros são seres inferiores e, por isso, incapazes, entre outras maioridades, de ocupar lugares de poder. Prosseguimos com o diagnóstico a partir das 21h30, em mais uma emissão d’ “O Lado Negro da Força”. Hoje com a poetisa Glória Sofia como convidada.

por Afrolink

“Sou uma mulher negra portuguesa, activista anti-racista e deputada do Bloco de Esquerda na Assembleia da República. Sou formada em Biologia – Ramo Científico, pela Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Trabalhei como professora de Biologia no ensino básico e secundário. Iniciei a minha carreira no ano letivo 94/95. Leccionei, predominantemente, em escolas da Área Metropolitana de Lisboa. Em 2007, comecei a militar no Bloco de Esquerda. Sou dirigente do Bloco de Esquerda. Faço parte da Mesa Nacional, da Coordenadora Distrital e da Coordenadora Concelhia de Lisboa. Cumpri um mandato como eleita do Bloco de Esquerda na Freguesias de Anjos (2009/2013), e dois mandatos na Freguesia de Arroios (2013/2017- 2017/2019).

Sou uma das fundadoras da Djass – Associação de Afrodescendentes, organização sem fins lucrativos criada em 2016 com o objectivo de combater o racismo e defender os direitos dos afrodescendentes. Dirigi a associação entre 2016 e 2019.

Em 2017, a Djass propôs a criação de um Memorial de Homenagem às Pessoas Escravizadas. Os seus principais interesses são a descolonização dos processos de produção e reprodução do conhecimento e da cultura, bem como a construção de uma contra-narrativa sobre História e Memória”.

“Afirmo-me como negra e portuguesa. É uma afirmação política”

O auto-retrato curricular, partilhado por Beatriz Gomes Dias no final do ano passado, aquando da sua participação n’ O Lado Negro da Força, atesta os seus múltiplos méritos.

Mas bastou ser indicada pelo Bloco de Esquerda como cabeça-de-lista à Câmara de Lisboa, para todo o seu percurso se resumir à cor negra da sua pele, ainda apontada como factor de desqualificação.

Basta ler algumas das reacções à notícia da sua escolha para ficarmos com uma ideia do discurso racista que corre solto.

Há quem conclua que “já que os portugueses não vão na conversa, há que ir buscar votos aos legalizados”. Também não falta quem partilhe que começa “a ver isto muito negro”, nem quem questione se Beatriz Gomes Dias “terá sido escolhida pela competência ou para se fazer de coitadinha”.

Os exemplos do discurso de ódio multiplicam-se, exibindo os graves sintomas de uma pandemia que dura há cinco séculos: a crença de que os negros são seres inferiores e, por isso, incapazes, entre outras maioridades, de ocupar lugares de poder.

Há muito comprometida em desconstruir essa e outras narrativas promotoras de discriminação e desigualdades, Beatriz Gomes Dias projecta a própria voz, em entrevista ao Público:

“Afirmo-me como negra e portuguesa. É uma afirmação política. Uso o negra enquanto sujeito político, de afirmação política, e sou portuguesa, precisamente para desmontar esta coincidência que é reiteradamente feita entre ser negro e ser estrangeiro”.

Negra, portuguesa, deputada e agora também candidata à liderança da Câmara de Lisboa, a bloquista partilhou, nas redes sociais, “o entusiasmo” com que aceitou “o desafio para encabeçar a lista do Bloco de Esquerda”.

“Acredito que é possível construir uma outra Lisboa: uma cidade mais habitável, mais inclusiva, mais solidária, menos desigual e com mais memória. Uma Lisboa com coragem e determinação para enfrentar a crise social que vivemos, a emergência climática, o racismo e todas as discriminações. Uma cidade que não esteja ao serviço dos interesses de alguns, mas que seja verdadeiramente a cidade de todos e todas”.

Por esta Lisboa, seguimos com o nosso voto em Beatriz Gomes Dias.

Acompanhe a corrida em mais uma emissão d’ O Lado Negro da Força. Para ver, no Facebook e no YouTube, todas as quintas-feiras, a partir das 21h30.