Dois anos a mostrar a força do sorriso negro – para celebrar d’ O Lado que une

A caminho da conversa n.º 100 d’ O Lado Negro da Força, que coincide com a emissão que assinala o 2.º aniversário do projecto, José Rui Rosário, idealizador e moderador do formato, conduz-nos numa viagem pela ainda breve – mas já expressiva – história do nosso lugar de fala. Para ler na primeira pessoa, e conhecer melhor todas as quintas-feiras. Hoje com uma programação especial.

por José Rui Rosário

Em 2019 surgiu a ideia: criar um espaço online de encontro com gente da comunidade negra e afrodescendente, para uma conversa onde as narrativas daqueles que convidássemos espelhassem um percurso de vida diverso e único.

Foram editados e publicados dois episódios no Youtube e, por problemas logísticos de produção, vi-me obrigado a suspender a ideia que até ali era um projecto pessoal.

Após os acontecimentos do Bairro da Jamaica e as agressões a Claúdia Simões, impôs-se a urgência de fazer algo que trouxesse a pauta da discriminação racial para o espaço digital. A oportunidade começou a desenhar-se em conjunto com o Pedro Filipe e o Alfredo Costa, a partir de uma manifestação.

Como eu, tanto o Pedro como o Alfredo eram e são presença frequente nos comentários anti-racistas nas redes sociais, e por termos opiniões alinhadas, combinámos fazer algo que marcasse a diferença no combate ao preconceito racial.

O impacto que o assassinato bárbaro de George Floyd teve em mim, acabou por impulsionar essa decisão.

Depois de me afastar alguns dias das redes sociais, na sequência de um colapso emocional e físico, voltei com a certeza de que teria de fazer muito mais do que o activismo digital e de rua em nome individual.

Foi então que desafiei o Pedro e o Alfredo para ressuscitarmos O Lado Negro da Força num formato livestream. Dias depois, estava no ar o projecto que pretendia apenar ser um lugar de desabafo de três negros portugueses. Na altura lembrei-me também de convidar o dirigente do SOS Racismo, Mamadou Ba, que aceitou juntar-se, sem guiões, numa conversa franca, directa e bem-disposta.

Os Lugares de Fala começaram assim a acontecer, sempre ao serão das quintas-feiras, e sem muitos planos de continuidade.

Entretanto, já realizámos 99 conversas, nas quais gente brilhante partilhou, de forma aberta e sincera, o seu percurso de vida e visão de mundo. No nosso lugar de fala temos recebido gente racializada, gente alinhada com a luta contra o preconceito e a opressão. Semanalmente, vamos deixando registadas as trajectórias de pessoas com as mais diferentes origens e profissões.

Algumas conhecidas no espaço público, outras desconhecidas, mas todas com histórias interessantes para contar.

Também vamos opinando, trazendo massa crítica às questões que mais nos afectam enquanto cidadãos de um país que, teimosamente, vai preservando os sistemas de opressão e discriminação que tanto prejudicam uma boa franja da sua população.

Semana após semana, a família foi crescendo, e aqueles que nos começaram a acompanhar – que carinhosamente chamamos negroseguidores – foram-nos sugerindo que tivéssemos um painel de co-apresentadores mais diverso.

Antes ainda da saída do Alfredo, e por sugestão da convidada Myriam Taylor, junta-se a nós a jornalista Paula Cardoso, e com ela surge a parceria com a sua plataforma Afrolink. Para que o nosso colectivo fosse ainda mais rico, convocámos para a equipa o sindicalista Danilo Moreira e, mais tarde a influenciadora Mariama Injai, que viria a deixar o projecto meses depois.

Em plena pandemia, e num momento de menos restrições, inaugurámos o formato presencial de conversas, nas primeiras edições do Mercado Afrolink. Foi aí que conhecemos a então finalista de Mestrado Laura Alves – agora já mestre em Engenharia Biológica –, que veio trazer uma visão mais “Millenial” aos temas que abordamos a cada semana.

Já neste ano de 2022, voltámos a fazer um alargamento no nosso painel, com a entrada da Mafalda Fernandes e do Ricardo Ayala, dois activistas de peso na causa anti-racista.

Quase sem darmos por isso, passaram dois anos, e, pelo nosso lugar de boa conversa passaram tantas pessoas inspiradoras que guardamos uma fortuna em depoimentos na primeira pessoa. Tudo registado nas nossas redes. Um valioso espólio que, num futuro não muito distante, pretendemos publicar em livro. Difícil será escolher o que deixar de fora!

Mas, por agora é tempo de brindar, receber de novo o nosso primeiro convidado e, juntamente com o Mamadou, refletirmos sobre estes dois anos de lutas que passaram, entre confinamentos e tantas restrições.

Uma certeza temos, agora que ninguém nos cala:  ainda há tanta gente brilhante para ouvir, e tantos ensinamentos para receber, de todos daqueles que espalham a força do sorriso negro.

Siga O Lado Negro da Força a partir das 21h, em directo no Facebook e no YouTube.

José Rui Rosário, idealizador e moderador d’ O Lado Negro da Força.

Foto de família d’ O Lado Negro da Força, antes das entradas de Mafalda Fernandes e Ricardo Ayala. Da esquerda: Danilo Moreira, Paula Cardoso, Laura Alve, José Rui Rosário e, ajoelhado, Pedro Filipe.

Numa das conversas presenciais, na Casa do Capitão, com a actriz e directora artística Zia Soares como convidada