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PELOS CABELOS DE TALAKU NASCEU UMA MARCA, QUE CRESCE ENTRE FIOS DE AMOR
Entre o que aprendeu sobre educar uma criança negra numa família totalmente branca, e aquilo que começou a viver e a sentir, Neus Rubau precisou de uma espécie de “reprogramação” a partir do momento em que adoptou Talaku. Dos comportamentos racistas que começou a identificar, tanto em miúdos como em graúdos, aos conflitos de identidade da filha, Neus ganhou outra consciência racial, e novas necessidades, como aprender a cuidar do cabelo afro. Uma história que hoje se conta com loja online, serviço de consultoria personalizado, e uma marca própria: a Curly & Roll.
EM DESTAQUE
Ainda estudante, Artemisa Ferreira quis saber mais sobre os jovens portugueses descendentes de cabo-verdianos, que foi encontrando durante a licenciatura e o mestrado no norte do país. Desse interesse resultou o documentário “Identidade Repartida”, expressão de pertenças além-fronteiras. No regresso ao seu Cabo Verde natal, e já com o grau de mestre em Realização, Cinema e Televisão no currículo, escreveu e realizou a premiada curta “Oji”, centrada no impacto das redes sociais nas relações familiares. Agora apresenta-nos “Os 47’s - depoimentos que ficaram”, documentário que relata as “aflições causadas pela fome nos anos 40 em Cabo Verde”, e que, por cá, foi exibido no espaço Tabanka Sul, no Seixal, e no Mbongi67, em Queluz. Presente nas duas sessões, a cineasta, escritora e professora conversou com o Afrolink sobre este projecto, antecipando os próximos planos: "Quero documentar aquilo que existe, e que ainda está por contar em Cabo Verde".
Neste 2025 em que se assinalam os 50 anos das Independências de Angola, Cabo Verde, Moçambique e São Tomé e Príncipe, a editora Letra Livre vai lançar uma há muito aguardada reedição da obra antológica de Mário Pinto de Andrade, intitulada “Origens do Nacionalismo Africano”. A novidade é antecipada ao Afrolink por Henda Ducados, filha do líder histórico, que, juntamente com a irmã, Annouchka de Andrade, se tem dedicado a preservar e difundir o legado familiar. Além de nos darem a conhecer os múltiplos contributos paternos para os processos de libertação – ultrapassando as fronteiras mais estritas da intervenção política –, Henda e Annouchka abrem os arquivos maternos, permitindo-nos aceder à vida e obra de Sarah Maldoror, apelidada de “mãe do cinema africano”.
Trabalhei como jornalista durante quase 20 anos, percurso iniciado na revista Visão, continuado no semanário Sol, e expandido a partir da saída para Angola, onde assumi, pela primeira vez, funções de chefia. As novas responsabilidades permitiram-me adicionar à minha assinatura profissional a única secção para a qual, até aí, nunca tinha escrito uma palavra: política. A nacional, entenda-se, porque a minha formação em Relações Internacionais acabou por me direccionar para o acompanhamento da actualidade ‘global’ – que é como quem diz do Norte Global. Faço o enquadramento para assinalar que apesar da minha experiência no jornalismo, nunca consumi tanto comentário político como no último ano e meio. Entre páginas de jornais e canais de televisão, a minha dieta informativa passou a incluir doses generosas de análise e opinião, demasiadas vezes indigestas de tão destemperadas. Cada uma à sua maneira, as diferentes posições que vou encontrando evidenciam que o pensamento que habita o espaço público até pode ter diferentes cores partidárias, mas há uma que sobressai: a da pele branca. Afinal, onde estão os comentadores negros?
Há uma parede estrutural – feita de efabulações, omissões, manipulações e distorções históricas –, que mantém o edifício colonial português de pé. Mas hoje sabemos o suficiente do caderno de encargos da obra imperial para reconhecermos que assenta sobre fracturas invididuais, familiares e colectivas, que tornam visível a necessidade de um projecto de reparação. Apesar disso, Portugal-o construtor prefere cobrir-se de tapumes de silêncio, manter a fachada de ‘bom colonizador’, e ignorar o lastro de destruição que, 50 anos após a queda do estado novo, continua a infiltrar vidas. Com que resultados? “Um Passado Presente” abre caminho para encontramos respostas.
A Assembleia da República (AR) aprovou, no passado dia 20, alterações à Lei de Estrangeiros, abrindo caminho para que o título de residência da CPLP possa finalmente entrar em vigor, respeitando as normas europeias. As mudanças ainda terão de passar pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias da AR, e obter a ratificação presidencial, processo que deverá ficar concluído até ao final do primeiro trimestre de 2025. Até lá, a antropóloga, artista, pesquisadora e activista de Direitos Humanos, Rita Cássia de Silva, alerta para o carácter discriminatório do novo instrumento, numa carta que dirige “às pessoas conterrâneas brasileiras em Portugal”, e que o Afrolink publica na íntegra. Nela, a investigadora defende que “não deve haver pessoas migrantes de 1.ª, 2.ª e 3.ª categorias no âmbito da CPLP”, lamentando que os países africanos tenham ficado para trás.
O livro “Nós Matámos o Cão-Tinhoso” inscreveu a escrita de Luís Bernardo Honwana nos anais das literaturas africanas. Leitura obrigatória nas escolas de Moçambique e, até 2026, também no Brasil – para os estudantes que concorram à prestigiada USP - Universidade de São Paulo – a obra popularizou-se em todo o mundo como denúncia das atrocidades do regime colonial português. Publicada em vários países e idiomas, “Nós Matámos o Cão-Tinhoso” já inspirou ensaios, teses académicas, e debates em conferências, alcançando um amplo reconhecimento, do qual ao autor se foi afastando.
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ÚLTIMOS ARTIGOS
O CCB – Centro Cultural de Belém recebe amanhã, dia 15, às 19h, o primeiro de três concertos que o projecto GRIOT 3000, com seis artistas de improvisação intercontinental, vai apresentar este mês. Seguem-se apresentações no Salão Brazil, em Coimbra, a 21 de Fevereiro, às 22h, e no dia seguinte, 22, em Braga, no palco do gnration, às 18h.
A organização Abril é Agora apresenta, amanhã, dia 8 de Fevereiro, entre as 10h e as 17h30, no Palácio das Galveias, em Lisboa, a Conferência “As Mulheres são Revolução”. Com três painéis de discussão, a iniciativa junta “a experiência das lutas revolucionárias, a reflexão sobre o que ficou por fazer e as exigências de futuro”. A entrada é livre, mediante inscrição.
“Será esta a Guiné-Bissau pela qual lutámos?”. A reflexão ressalta do filme “Nome”, do realizador guineense Sana Na N'Hada, que estreia nos cinemas portugueses no próximo dia 6 de Fevereiro. A noite de antestreia está marcada para 4 de Fevereiro, às 21h, no Cinema Fernando Lopes, em Lisboa, com a presença do cineasta e de Binete Undonque, actriz que integra o elenco.
A start-up angolana Afrikanizm Art inaugurou, no último domingo, 2 de Fevereiro, na Oficina de Artes Manuel Cargaleiro, no Seixal, a exposição "Black Lies Matter", do artista Rómulo Santa Rita, que “desafia o público a examinar as realidades gritantes da desigualdade, do racismo, da pobreza e da empatia seleccionada que persistem no mundo”.
O TBA – Teatro do Bairro Alto, em Lisboa, inaugura o formato “da boca ao universo”, em que os livros funcionam como objectos-mediadores, lançando o mote para uma conversa performativa, “que será também uma partilha de saberes”. A novidade insere-se na programação de discurso e, arranca, no próximo dia 5 de Fevereiro, às 18h30, com Lola Rodrigues a.k.a. SoundPreta.
O ICNOVA – Instituto de Comunicação da NOVA inaugura, na próxima terça-feira, 4 de Fevereiro, o seminário “Corpos, Tecnociência e Sociedade”, servido à hora de almoço, num ambiente propositadamente informal. A primeira sessão cabe ao investigador Paulo Victor Melo, seguindo-se, até Julho, outros seis encontros, invariavelmente entre as 13h e as 14h.