“Plantação-Prosperidade e Pesadelo” em Lisboa, pelas pessoas escravizadas

Aprovado na edição de 2017/2018 do Orçamento Participativo da Câmara de Lisboa, sob proposta da Djass – Associação de Afrodescendentes, o Memorial de homenagem às Pessoas Escravizadas tem inauguração prevista para o primeiro trimestre de 2021. Um projecto para conhecermos melhor a partir das 21h30, em mais uma emissão d’O Lado Negro da Força, esta noite com a deputada Beatriz Gomes Dias como convidada.

por Afrolink

Projectado para “promover o reconhecimento histórico do papel de Portugal na Escravatura e no tráfico de pessoas escravizadas, e evocar os legados desse longo período na sociedade portuguesa actual, desde a rica herança cultural africana às formas contemporâneas de opressão e discriminação”, o Memorial de homenagem às Pessoas Escravizadas prepara-se para ganhar vida no primeiro trimestre do próximo ano, com a arte do angolano Kiluanji Kia Henda.

Autor do projecto mais votado, ao longo de cerca de três meses de uma consulta popular que percorreu cinco municípios do distrito de Lisboa, Kiluanji superou as propostas de Grada Kilomba e de Jaime Lauriano, com a sua obra “Plantação – Prosperidade e Pesadelo”.

Os três artistas responderam ao desafio lançado pela Djass – Associação de Afrodescendentes para construção de um Memorial de homenagem às Pessoas Escravizadas em Lisboa, projecto aprovado, mediante sua proposta, na edição de 2017/2018 do Orçamento Participativo da Câmara lisboeta.

Um quilombo de escravos fugidos?

Com 77 votos, contra 48 da segunda proposta mais popular, de Grada Kilomba, a obra de Kiluanji “pretende tratar da memória da escravidão enquanto presença de uma ausência”, por não ser “possível representar de forma directa e realista tamanho trauma transnacional”.

“Voltamo-nos, então, para a matéria-prima, a cana-de-açúcar, o ouro branco que esteve nas origens do tráfico compulsório de escravos”, contextualiza o angolano, na descrição do projecto, que “almeja construir um lugar de memória, aberto à reflexão”.

Trata-se de “uma representação de uma plantação de canas-de-açúcar, composta por 540 pés de cana-de-açúcar em alumínio preto, cada um com 3 metros de altura e 8 centímetros de diâmetro”, detalha Kiluanji, explicando a sua abordagem.

“Entre os pés de cana há intervalos regulares, convite à caminhada e à reflexão. Apresenta-se uma experiência entre o sagrado, o contemplativo, e o banal quotidiano. Como se as canas-de-açúcar se tornassem a imagem da própria repetição urbana. Até que surge um pequeno anfiteatro no meio da plantação, como um ponto de encontro. Talvez um quilombo de escravos fugidos. Talvez apenas um vazio, um intervalo de intervalos, onde possa surgir algo de novo”.

O monumento vai ocupar o Largo José Saramago, no Campo das Cebolas e, adianta a Djass, numa segunda fase será também criado um centro interpretativo, “a instalar num edifício adjacente, que incluirá uma componente expositiva sobre o memorial, a escravatura e assuntos relacionados, bem como um espaço para eventos temporários”.

Na génese desta homenagem, que liderou ainda enquanto presidente da Djass, a deputada Beatriz Gomes Dias vai dar-nos a conhecer um pouco mais deste projecto, mais logo, n’ O Lado Negro da Força.

 

Acompanhe, a partir das 21h30, no Facebook e no YouTube, o Lado Negro da Força, o talk-show online das noites de quintas-feiras. Com José Rui Rosário, Pedro Filipe, Paula Cardoso, Mariama Injai e Danilo Moreira.