Um ano de Afrolink, com centenas de vidas e projectos para celebrar

A 29 de Junho de 2020 inaugurávamos esta morada online, de publicações abertas para visibilizar as histórias e os projectos de pessoas negras que, como eu, reivindicam o direito a ser, a pertencer, e a construir a própria narrativa, livres de visões estereotipadas e opressoras. Um ano depois, a nossa casa já deu a conhecer centenas de vidas e iniciativas, lançou um programa de estágios, e prepara-se para se estrear em eventos presenciais. Fiel ao propósito de partida: partilhar experiências, valorizar competências, criar alianças, divulgar e suportar negócios. 

por Paula Cardoso

A sensação de desencontro com o tempo que me invade a cada aniversário de vida, como se os dias voassem enquanto eu caminho, inverte-se nesta celebração do primeiro ano de Afrolink.

Aqui, morada aberta para visibilizar as histórias e os projectos de pessoas negras, encontro um ganho de tempo que se prolonga em mais de 300 publicações.

Não sinto que o Afrolink começou há um ano, com o lançamento do site, nem sequer em Setembro de 2019, com a abertura do grupo fechado que mantemos no Facebook.

O Afrolink é anterior a mim, é anterior a todos nós. O Afrolink é resistência contra a opressão. A minha e a de todos os que reivindicam o direito a ser, a pertencer, e a construir a própria narrativa, livres de visões estereotipadas e desumanizantes.

Por aqui já me emocionei até às lágrimas, criei amizades, estabeleci parcerias – com destaque para O Lado Negro da Força – vi sonhos serem concretizados, e confirmei o potencial e o poder das nossas alianças.

O meu lugar é onde eu quiser

Ontem, hoje e amanhã, estamos juntos nas nossas lutas, estamos fortalecidos nas nossas identidades – tão múltiplas quanto as intersecções que nos atravessam –, e firmes na ocupação dos nossos lugares. Não os de subjugação e subqualificação que o sistema estruturalmente racista tem reservados para nós, evidenciados no ‘ritual’ de encaminhamento dos alunos negros para vias profissionalizantes, ou na perplexidade que a chegada de pessoas negras suscita em entrevistas de emprego para cargos diferenciados.

O meu lugar é onde eu quiser, orgulho-me hoje de dizer, porém com a consciência de que aquilo que queremos está ligado ao que reconhecemos como possibilidade.

Se não vejo pessoas como eu a apresentar programas de televisão, nem a assinar colunas de opinião, vou assumir que essas posições não são para mim. E não, não se trata de “vistas curtas”, ou de défice de ambição. A falta de representatividade arruína sonhos, limita horizontes.

Poder travar esse processo através de uma simples partilha de histórias, é, para além de uma missão de vida um privilégio enorme.

Sou profundamente grata a todos por confiarem ao Afrolink um pouco do tanto que são e fazem.

Um ano depois, a nossa casa já deu a conhecer centenas de vidas e iniciativas, lançou um programa de estágios, e prepara-se para se estrear em eventos presenciais. Fiel ao propósito de partida: partilhar experiências, valorizar competências, criar alianças, divulgar e suportar negócios. Seguimos juntos, e fortalecidos