Um ano depois do assassinato de George Floyd, o que mudou?

Na passada terça-feira, 25, cumpriu-se um ano desde o brutal homicídio de George Floyd, às mãos do então agente Derek Chauvin. Durante esse período, acompanhámos protestos contra a violência policial racista em todo o mundo, assistimos à chegada de um novo Presidente à Casa Branca, e, num veredicto inédito, ouvimos a Justiça reconhecer a culpa de um assassino institucional. Enquanto isso, outros 181 afroamericanos perderam a vida em confrontos com a Polícia, levantando a questão: até que ponto podemos falar de uma mudança pós-Floyd? Este e outros questionamentos acompanham-nos mais logo, n’O Lado Negro da Força. Hoje com o pensador Eduardo Marinho como convidado.

por Afrolink

A barbárie estava contabilizada em 8 minutos e 46 segundos. Um ano depois, sabemos que a derradeira luta de George Floyd pela vida durou mais: nove minutos e 29 segundos.

A violência assassina da acção policial, filmada e reproduzida para milhões, inspirou protestos em todo o mundo, incluindo em Portugal, onde a 6 de Junho de 2020 mais de 10 mil pessoas saíram à rua.

“Ao contrário do que afirmaram alguns, de que a mobilização em Portugal seria puro mimetismo, o (anti)racismo e violência policial são estruturalmente globais e conectam, histórica e materialmente, a diáspora africana onde quer que esteja”, recordaram os especialistas Ana Rita Alves, Cristina Roldão, e Pedro Varela, no texto “E por cá, qual o debate sobre o movimento “Defund the Police”?”.

Ainda no adro da discussão, Portugal avança para a aprovação do seu primeiro Plano Nacional de Combate ao Racismo e à Discriminação, documento que esteve cerca de um mês em consulta pública.

Apesar dos longos anos de pressão dos colectivos anti-racistas no país, o Plano Nacional torna-se indissociável do movimento de pressão internacional, amplificado pelo grito “Black Lives Matter” – afinal, todos querem ficar bem na fotografia.

Uma força de pressão anti-racista

Da mesma forma que as novidades em Portugal parecem responder mais às exigências do momento do que às reivindicações do movimento anti-racista, quando observamos as mudanças nos EUA também nos questionamos sobre o real compromisso para a mudança.

Afinal, desde o assassinato de Floyd outros 181 afro-americanos foram mortos pela polícia, indica o projecto Mapping Police Violence, sinalizando 89 baixas desde o início do ano.

O desencorajador registo contrasta com a esperança trazida pela condenação do ex-polícia Derek Chauvin, culpado dos três crimes de homicídio de que foi acusado pela morte de George Floyd.

Mas, também aqui, e por mais que reconheçamos que o veredicto é histórico, convém não esquecer, conforme notou a filósofa e activista Luísa Semedo, que “o veredito de Chauvin não é o fim de nada, é mais uma etapa”.

Lembrando que “uma condenação justa não é sinónimo de Justiça”, a também professora assinalou, numa análise republicada no Afrolink, que apesar da justeza do veredicto, “não sabemos qual teria sido o seu teor se não tivesse havido tanta mobilização”.

Por outro lado, acrescentou Luísa, “sem a coragem da jovem Darnella Frazier, que filmou a tortura e assassinato de George Floyd, a versão do que aconteceu teria sido a primeira versão mentirosa da polícia”.

Tudo isto somado e tanto mais, até que ponto podemos falar de uma mudança pós-Floyd?

Este e outros questionamentos acompanham-nos mais logo, n’O Lado Negro da Força. Hoje com o pensador Eduardo Marinho como convidado.

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