A marca e os marcos d’ O Lado Negro da Força, com o “pior moderador o mundo”

Há um ano a preencher as noites de quinta-feira, O Lado Negro da Força realiza hoje uma emissão especial de aniversário, com a presença de todos os hosts do programa, e de vários convidados que já passaram por este lugar de fala. O Afrolink junta-se à celebração, assinalando alguns marcos do projecto, que ganha crescente expressão de marca. Para conhecer pela voz do fundador José Rui Rosário, já popularizado como “o pior moderador o mundo”.

por Paula Cardoso

O primeiro cachupão está reservado para o próximo dia 4 de Julho e, como o nome sugere, mistura cachupa com celebração.

Ainda sem data surge a mostra de cinema em homenagem ao cineasta cabo-verdiano Guenny Pires, enquanto a publicação de um livro com as histórias dos convidados já marca o calendário para o próximo ano.

“O Lado Negro da Força (LNF) está-se a tornar uma marca”, reconhece José Rui Rosário, para quem o formato “pode ser muito mais do que um veículo digital”.

A presença além do online já passou pela  Casa da Cultura de Setúbal onde, em Outubro do ano passado, a convite da Associação José Afonso, a equipa de hosts do LNF participou na tertúlia “Plantar a semente da palavra (em tempo de pandemia)”.

Agora, com um ano de emissões semanais ao vivo, no Facebook e no YouTube, e sempre nas noites de quinta-feira, surgiu o desafio de conduzir o programa em bairros das periferias de Lisboa.

“Façam alguns lugares de fala em directo, [a partir] do espaço das associações”, propôs a seguidora Anizabela Amaral, durante a conversa com o líder comunitário Mauro Wah.

Uma marca que veio para ficar

A hipótese, considera José Rui Rosário, ou simplesmente Zé Rui, é um dos “muitos caminhos viáveis” que o LNF pode seguir. “Temos de pensar em termos técnicos como é possível fazer, mas é do interesse desta equipa encontrar outras formas de levar o Lado Negro da Força às pessoas”, reconhece o criador do projecto, que ganha crescente expressão de marca.

“Creio que há muito potencial para realizarmos alguns eventos presencialmente, ou então para avançarmos com algo presencial que permita fazer também uma divulgação digital”.

Ideias não faltam, reforça o também músico, confiante na expansão do formato: “O Lado Negro da Força é uma marca que veio para ficar”. 

Os planos de consolidação incluem uma renovação da imagem, processo desenvolvido em parceria com a MI6 – Agência de Marketing, Comunicação e Design,  a que se seguirá a aposta em produtos de merchandising.

Sobre a mesa está também a elevação do cachupão a evento-estrela do calendário das festas de Junho, mês de nascimento do LNF com a actual configuração de múltiplos hosts.

Desta vez em Julho e reservado a convidados, devido às restrições impostas pela pandemia, o cachupão promete abrir-se, já a partir do próximo ano, a quem se quiser juntar, reforçando a missão colectiva do projecto, iniciado a solo, e num registo nómada que se tornou insustentável com o confinamento.

“O novo formato surgiu depois do que aconteceu com o George Floyd.  Eu tenho estado na luta anti-racista há muitos anos, e, nessa altura, tive um momento de esgotamento. Fiz uma pausa durante algumas semanas, enquanto deixei a marinar uma ideia que já tinha sido falada por mim, pelo Pedro [Filipe], e pelo Alfredo [Costa]”, conta o criador do Lado Negro da Força.

O trio de amigos, formado entre encontros em manifestações, estreou-se a 18 de Junho de 2020 na companhia do activista Mamadou Ba, o primeiro de quase 50 convidados que já passaram pelo programa.

Um “grito de silêncio” que nos traz luz

Com um histórico de meia centena de emissões já realizadas, a que se juntam três edições especiais – para divulgação do movimento “Em Desconstrução”, do jornal “O Negro” e do projecto “Alcindo – o filme” –, o LNF conta hoje com uma equipa de quatro hosts.

Além de Zé Rui e Pedro Filipe, que fazem parte do núcleo inaugural – do qual Alfredo saiu por motivos profissionais –, Danilo Moreira e Paula Cardoso juntam-se ao leque de anfitriões residentes, que também já incluiu Mariama Injai.

“Tem sido uma das minhas constantes: trabalhar neste projecto com pessoas que eu adoro e a quem agradeço imenso o contributo”, destaca Zé Rui, fiel ao compromisso de partida.

“Isto começou por ser um grito no silêncio, uma vontade de fazer algo diferente, e que viesse marcar também um espaço onde raramente encontramos vozes negras”.

Mais de 50 emissões depois, todas com a presença de Zé Rui, o super host sublinha a força do colectivo. “Somos uma equipa, e adoro fazer parte dela, e ser o pior moderador do mundo”, diz, puxando dos galões atribuídos pelo parceiro Pedro Filipe e popularizados de emissão em emissão, ao longo de horas de conversa.

No balanço dos encontros, o “pior moderador do mundo” aponta: “Destaco o facto de termos conseguido juntar tantas histórias, tantas narrativas, tantos caminhos, de pessoas racializadas, ou não, que nos levam para um lugar onde há muito que lutar e mudar”.

Da primeira à próxima conversa, a marca reitera a sua força: “O Lado Negro é estar do lado do amor, é estar do lado das pessoas que têm bastante luz”.

 

Para ver no Facebook e no YouTube, a partir das 21h.